quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Jesus, o Messias - artigo teológico


Por Waldyr Carvalho Luz


Haverá em toda a extensão do mundo ocidental quem desconheça a palavra CRISTO, pessoa que ignore a quem se refere o termo? Não, por certo, a não ser que se trate de individualidade fora do normal. Contudo, poder-se-á dizer o mesmo em relação ao vocábulo MESSIAS? Evidentemente, não! Cifras elevadas de pessoas, até gente de culturaacentuada, terão não pequena dificuldade em definir o termo e dar-lhe a conveniente aplicação.

E quantos são aqueles que sabem que CRISTO e MESSIAS quer dizer a mesma coisa? Não há dúvida de que é parcela bem reduzida. Entretanto, assim o é.

CRISTO é termo de origem grega, MESSIAS é forma helenizada de palavra hebraico-aramaica. Ambas significam UNGIDO. Logo, historicamente, o termo CRISTO é tradução da palavra MESSIAS. A referência é às figuras do Israel Antigo que recebiam formal unção, consagração mediante o derramamento de óleo sagrado sobre a cabeça da pessoa que era assim divinamente comissionada para o exercício de função especial na vida do povo de Deus. Eram assim consagrados aqueles que tinham as prerrogativas do sacerdócio santo, do múnus profético e do governo teocrático.

Esta consagração era como que o selo do divino comissionamento. Naturalmente, no decorrer do tempo, veio a assumir sentido figurado, designando o termo o divino chamamento para encargo específico, ainda quando não houvesse tido lugar o cerimonial de consagração.

Desde os primórdios da história de Israel, o chamado povo eleito de Deus, havia a promessa de um vulto climático, o Ungido por excelência do Senhor, aquele que enfeixaria em sua pessoa a carreira a culminância da ação de Deus na história. Essa figura única, e sem par, objeto das mais sublimes esperanças de Israel e expressão mais vívida e acendrada da operação de Deus em favor de Seu povo era o MESSIAS.

É bem verdade que, na cegueira de seus sonhos terrenos e na obstinação de seus interesses materializados, veio Israel a nutrir uma expectação messiânica de todo pervertida, já que nos últimos tempos se polarizava na figura de guerreiro extraordinário a levar de vencida todas as forças adversas, pondo por terra o poderio do Império Romano que, então, avassalava a Palestina e implantando a supremacia de Israel sobre o mundo, rei cujo fastígio houvesse de superar a glória dos tempos áureos dos monarcas máximos do passado hebreu, Davi e Salomão.

Contudo, os seguidores de Jesus após as duras e paradoxais vicissitudes de Sua carreira e a despeito do patético drama do Calvário, ante a evidência da ressurreição incontestável e a poderosa manifestação do Espírito Santo, O reconheceram como o esperado Messias e nessa fé viveram e por essa fé batalharam, constituindo-a o centro mesmo de sua vida e ação.

Portanto, podemos sintetizar-lhes a fé na declaração singela mas absoluta: JESUS É O MESSIAS. Esse o credo todos os discípulos de Jesus. Esse o credo de todos os cristãos. Essa a tese básica dos quatro Evangelhos com que se abre o cânon néo-testamentárlo, o acervo de livros inspirados que constituem a segunda parte da Bíblia.

Jesus, o Messias !

Logo, quem pronuncia o binômio JESUS CRISTO já não está apenas afirmando que Jesus era ou é o Messias, dá-o como pressuposto. Claro é que na linguagem rotineira praticamente ninguém tem noção da sublime afirmação de fé implícita no título JESUS CRISTO, isto é JESUS, MESSIAS. Entretanto, esse é o sentido real, que se deveria fazer consciente no espírito de todos quando pronunciamos o sublime nome: JESUS CRISTO.

E de quanta significação se revestia esse título para o crente dos primeiros anos da Igreja! Significava, em primeiro lugar, o cumprimento das promessas do passado, a atualização de profecias impressivas, a concordância de predições multiformes com a realidade objetiva da vida e obra de Jesus, o Messias comprovado.

Através dos quatro Evangelhos se percebe a tensão constante entre a expectação messiânica alimentada pelo povo, expectação marcada pelos aspectos políticos e sociais, em moldes terrenos e materiais, e a noção escriturística de Jesus, em linhas puramente religiosas e espirituais. Insistia Jesus sempre no estrito ajustamento ao que Deus falara aos profetas e pelos profetas, que deviam ser entendidos segundo o puro sentido das Escrituras e não conforme as preferências ou deturpações de quantos liam os profetas segundo a projeção de suas ambições terrenas e esperanças humanas.

É evidente que haveria sempre aguda discrepância entre o ideal messiânico alimentado pelo povo em geral e a noção contida nos escritos proféticos e ensinada por Jesus. Longe estaria o Messias dos anseios populares de corresponder ao Messias vaticinado pelos profetas. E é exatamente isso que os discípulos de Jesus, dominados até o final do ministério do Mestre por expectações terrenas, acabaram, afinal, compreendendo.

Sim, Jesus, o humilde e sofredor peregrino da Galiléia, era o Messias dos Profetas! Sem triunfos espetaculares à frente de tropas aguerridas, sem poderio bélico de exércitos invencíveis, sem trono real e corte palaciana de nobres e purpurados, sem glórias humanas e grandezas deste mundo, ao contrário, pobre e desprezado, perseguido e maltratado, enfim, preso e crucificado, mas o Messias!

Mateus, o primeiro dos Quatro Evangelhos no arranjo atual dos livros neo-testamentários, que parece escrever diretamente para os judeus da Palestina, afeitos às Escrituras do Antigo Testamento, que aceitavam como a indisputável Palavra de Deus revelada, timbra em registrar aspectos da vida e da obra de Jesus que representavam direto cumprimento de profecias do Antigo Testamento. Vale isto por dizer que Jesus se credenciava como sendo o real Messias dada a admirável conformidade patente entre as predições proféticas e os fatos ora registrados.

Sem dúvida, Jesus era o Messias esperado em vista da maneira como nÊle se cumpriam as inspiradas profecias dos divinos mensageiros do passado!

Mas, em segundo lugar, significava o reconhecimento de que em Jesus de Nazaré, se patenteava corporalmente a presença de Deus atuando de modo poderoso e eficaz.

Como figura humana, talvez Jesus não se pudesse diferençar visivelmente dos que O cercavam em aparência e compleição. Era, ao que se mostrava, um homem como os outros. E, todavia, nÊle havia algo diferente! No quadro maravilhoso mas singelo e objetivo que os Quatros Evangelhos pintam, a figura de Jesus sobressai invulgar, possuída de autoridade única e manifesta superioridade, a infundir aos discípulos temerosos respeito e solene distanciação. Em Jesus reconheciam todos a grandeza de alma, a perfeição de caráter, a pureza de sentimentos, a harmonia do ser, a visão segura que O faziam de todos diferente e a todos imensamente superior.

E, como não poderia deixar de ser, reconheciam que em Jesus operava o poder de Deus como em ninguém! Em Jesus a presença de Deus se evidenciava natural, espontânea, inegável. E quanto mais de perto O acompanhavam, tanto maior se lhes fazia a certeza desse fato. Então vieram a perceber que a sublimicidade dos ensinos, a profundidade do ideal, a firmeza de propósito, a imprevisibilidade das reações, a paixão pelos necessitados, a coragem das decisões, a piedade inconcussa e a majestade serena com que desafiava os opositores, eram gloriosas expressões da presença de Deus na pessoa singela de Jesus, o suave rabino de Cafarnaúm.

E a conclusão única a que logicamente poderiam chegar era: na verdade este Jesus é o Messias, o Messias de Deus. Foi essa a natural conclusão a que chegou Pedro quando nas distantes regiões da Ituréia, argüido pelo Mestre, ao final do chamado segundo ministério da Galiléia, pôde afirmar sem restrições: "Tu és o Messias, o filho do Deus vivo" (Mateus 16:16). Por isso, também, Mateus, o evangelista, citando a profecia de Isaías em relação ao nascimento de Jesus, aplica-Lhe a segunda parte do versículo 14 do capítulo 7, nestes termos: “E chamar-lhe-ão o nome Emanuel, que, traduzido, é: CONOSCO ESTÁ DEUS" (Mateus 1:23)

Portanto, aos olhos da Igreja Primitiva Jesus Se demonstrava o esperado Messias porquanto manifestava em Seu ser e pessoa a inegável presença de Deus a operar em poder e autoridade ímpares.

E, em terceiro lugar, significava a certeza de que Deus, finalmente, consumava, na pessoa e na obra de Jesus o Messias, o plano de redenção de Israel.

Nota reiterada por Jesus, em ocasiões tantas e circunstâncias muitas, é a do epílogo doloroso e inexorável que Lhe selaria a carreira. Se, no entender de James Stalker, o primeiro ano do ministério de Jesus se pode chamar O ANO DA OBSCURIDADE, não muito conhecido ainda o taumaturgo de Nazaré, e o segundo O ANO DA POPULARIDADE, tal o impacto que causava por toda a Palestina e até além fronteiras, o terceiro é, sem dúvida, o ANO DA OPOSIÇÃO ou HOSTILIDADE, porquanto as forças religiosas, desde os fariseus intransigentes, que se tinham na conta da nata da religiosidade de Israel, com os escribas protensiosos, a elite cultural da sociedade judia, até os saduceus oportunistas, detentores do poder sacerdotal mas superficiais na fé, se levantavam concertadas em aberta resistência a Jesus.

E da resistência passaram à perseguição e da perseguição ao excídio. E assim é que, no mais sinuoso dos processos, autoridades judaicas levaram ao Calvário o Messias de Israel! Não havia harmonizar desfecho tão trágico e a dignidade messiânica.

Assim é que não poucos teólogos e historiadores não têm podido equacionar essas duas linhas tão díspares, negando, pois, a messianidade de Jesus. Os discípulos, porém, inda que tardos, vieram enfim a compreender toda a tessitura dos fatos e a perceber, à luz das profecias relacionadas com o Servo Sofredor, mormente no quadro que lhe pinta Isaías, que o Messias levaria a cabo a libertação espiritual do Israel de Deus, o povo eleito, mercê de Seu próprio sacrifício.

O Calvário não era, pois, o fadário do fracasso mas o selo da vitória. O Messias não era o potentado do Pretório, palácio do governo em Jerusalém, mas a vítima da Cruz. E a morte infamante do Messias era a garantia mesma de que Deus, o Deus dos Patriarcas e dos Profetas, o Senhor de Moisés e do povo, em Jesus, operava a realização do plano redentor anunciado desde o Éden. Desta sorte, a Cruz se constituía em evidência incontroversível de que Jesus era o Messias.

Jesus o Messias, atestado pelo cumprimento de profecias, autenticado pela evidência da presença de Deus em Sua pessoa e obra e confirmado pelo próprio sacrifício do Calvário, assim o criam os crentes primitivos.

E você, dileto ouvinte, crê de fato que Jesus é o Messias de Deus? É-lhe o termo CRISTO não mero qualificativo nominal mas a consciente afirmação de que Jesus é o Messias? Aceita-O, entregue-lhe a direção do viver e será também um eleito de Deus, cidadão do Seu reino, a louvá-lO para sempre e sempre, herdeiro da vida eterna e possuidor da bem-aventurança do céu. Amém.

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